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Quarta, 06 de agosto de 2003 - 08h32min

Riqueza eqüina do Brasil

Por Pio Guerra *

A criação e comercialização de cavalos não é atividade de lazer de poucos, mas um negócio de muitos. O Brasil tem, atualmente, o terceiro maior rebanho eqüino do mundo, com 5,9 milhões de cabeças, segundo números de 2002 da Food and Agriculture Organization (FAO), perdendo apenas para México e China. Com tais números, seria impossível imaginar que somente os ricos desenvolvam essa atividade produtiva. Estima-se que o uso do cavalo ocupe diretamente mais de 500 mil pessoas no País.

Não se pensa mais no cavalo apenas como instrumento de batalha ou de tração, nem mesmo como alimento, o que nunca foi de nosso costume. Porém, o desbravamento de novas áreas produtivas, além do seu uso ainda como meio de transporte e serviços, dão importante dimensão econômica à criação de cavalos no Brasil. Surgiram novos espaços neste mercado promissor, com o emprego do cavalo como equipamento esportivo, de lazer e manutenção de nossas raízes culturais mais interioranas, de inigualável apelo ecológico.

Até animais de raças importadas foram incorporados definitivamente a tradicionais festas e circuitos esportivos nacionais, como vaquejadas, cavalhadas e provas funcionais, entre outras, sem contar usos mais sofisticados, como pólo, turfe, hipismo e, mais recentemente, adestramento olímpico e enduros.

Assim, com toda sua beleza e versatilidade, o cavalo vem se ajustando às necessidades do usuário com grande rapidez. Hoje, somente entre os animais registrados, são 300 mil mangas-largas marchadores, 278 mil quartos-de-milha, 197 mil crioulos, 186 mil mangas-largas, 88 mil campolinas, 80 mil árabes, 30 mil puros-sangues ingleses (PSI) e 25 mil appaloosas, entre outros. Este é o tamanho da eqüinocultura, que forma, hoje, no Brasil, uma importante cadeia do agronegócio, com forte interrelação com setores ligados ao lazer, cultura e turismo.

A perspectiva de crescimento desse negócio passa pela capacidade dos criadores se organizarem e produzirem animais de qualidade, com visão mercadológica. Recentemente, a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) criou a sua Comissão Nacional do Cavalo, com o objetivo de reunir as associações de criadores de todo o País, para trabalhar uma política de valorização deste segmento produtivo. Atualmente, existem em funcionamento mais de 20 associações nacionais de raças puras.

O mercado para o cavalo brasileiro está em franca expansão, com novas oportunidades de negócios para os criadores e atividades que giram em torno da produção. Já estão sendo comercializados, com sucesso, produtos acessíveis a camadas da classe média urbana, que buscam melhorar sua qualidade de vida aumentando as oportunidades de lazer e esporte integrados à natureza. Ficaram na história as cenas bucólicas dos velhos tempos do Brasil Colônia, com seus orgulhosos cavaleiros. Permanecem, no entanto, os bons resultados de um trabalho de séculos dos nossos criadores, que formaram raças nacionais, hoje reconhecidas em todo o mundo.

Temos qualidade e quantidade. Nossos cavalos são capazes de ombrear aos puros-sangues ingleses, aos lusitanos e andaluzes, aos quartos-de-milha ou aos árabes. Precisamos apenas valorizá-los, como fazem sabiamente nossos concorrentes. Um país com a tradição e a dimensão rural do Brasil não pode desprezar sua cultura eqüestre, tampouco a riqueza de seus valiosos rebanhos. Somos grandes na soja, no café, no suco de laranja, na cana-de-açúcar, entre tantos outros segmentos da agropecuária. Mas, vale registrar: somos grandes, também, na produção de cavalos. Basta assumirmos esta realidade. Só temos a ganhar, cultural e economicamente.

* Vice-presidente executivo da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA)

Fonte: O Estado de S. Paulo