Segunda, 23 de setembro de 2013 - 17h53min
John Landers: inglês de nascimento, brasileiro de coração
Por Pedro Luiz de Freitas
A Associação de Engenheiros Agrônomos de Goiás decidiu homenagear John N. Landers na categoria Agrônomo do Ano de 2013.
A homenagem acontece no ano em que em que este inglês de nascimento, brasileiro de coração, comemora seus bem vividos 75 anos de idade. John vive no Brasil desde 1966 e tem dedicado sua existência, competência e carisma para o desenvolvimento da agricultura nos Cerrados Brasileiros e em todo o mundo tropical, dirigindo uma grande orquestra formada por agricultores, professores, pesquisadores, extensionistas, técnicos especializados e iniciativas pública e privada empenhada na consolidação da agricultura brasileira como a mais ambiental de todo o mundo.
Desde seus primeiros trabalhos no Brasil, como pesquisador do International Research Institute for Climate and Society – IRI - em Matão/SP, mostrou intensa preocupação com a sustentabilidade da agricultura e no uso de recursos naturais nos trópicos.
Atuando nos Cerrados desde a década de 70 se transformou em um visionário em relação à viabilidade de uma agricultura verdadeiramente conservacionista para a região onde a fronteira agrícola avançava rapidamente. Foi responsável por ações de experimentação importantes e pela difusão dos resultados alcançados pela integração tecnológica pesquisa – extensão – ensino - iniciativa privada - agricultores que viabilizou a adoção do Sistema Plantio Direto em todas as áreas agrícolas do Bioma Cerrados.
Pedro Luiz de Freitas e John Landers
Foto: Divulgação
Suas atividades sempre se concentraram no Estado de Goiás, inicialmente em Morrinhos e depois em diferentes regiões, com destaque para Santa Helena (em parceria com Ricardo Merola), Rio Verde (com o pioneiro Andreas Peeters, Flavio Faedo e muitos outros), em comunidades de pequenos agricultores em Inhumas (em parceria com professores da Escola de Agronomia da UFG). Sua contribuição extrapolou o Estado de Goiás e o Distrito Federal, onde vive desde que seus país vieram para o Brasil nos anos 80, e abrange todas as regiões brasileiras.
Preocupado com os efeitos diretos da agricultura convencional praticada de forma intensiva no Brasil, especialmente a erosão e degradação física, química e biológica do solo, John Landers contribuiu também para o entendimento dos efeitos socioeconômicos da adoção do SPD, e depois da Integração Lavoura Plantio Direto – Pecuária - Floresta, abrangendo os efeitos diretos dentro da propriedade rural assim como os efeitos indiretos, pela valoração dos impactos de sua implantação, e os benefícios da mudança de paradigmas na agricultura tropical para toda a sociedade.
Sua preocupação com a sustentabilidade agricultura brasileira o levou a defender uma solução negociada para a dialética entre ambientalistas e produtores rurais como uma forma de mitigar o desmatamento na fronteira agropecuária do Brasil. Entre os princípios levantados temos a consideração do produtor rural como aliado n. 1 da conservação, a existência de tecnologia para evitar desmatamento por mais 25 anos, a necessidade da sociedade “pagar para preservar”, e, por fim, que a sociedade, consumidora e majoritariamente urbana, reconheça seus múltiplos débitos ambientais. Esta iniciativa está sendo difundida através de palestras em várias universidades brasileiras e em todo o mundo, assim como em eventos nacionais e internacionais.
No entanto, a contribuição mais efetiva de John Landers foi de ter proporcionado a oportunidade de consolidar a integração tecnológica para o desenvolvimento do SPD nos Cerrados através da fundação da Associação de Plantio Direto no Cerrado, em 1992, na cidade de Santa Helena, GO. Seu carisma e capacidade de execução foram decisivos para transformar uma ideia de ação associativa em realidade. Ousado como secretário executivo da APDC, foi o responsável pela realização do primeiro encontro de plantio direto no Cerrado (Goiânia, 1993), fato decisivo para a consolidação do Sistema Plantio Direto na efetiva conservação dos recursos naturais.
Sua atuação alavancou a APDC como organização de referencia para a adoção do SPD e a formação dos Clubes Amigos da Terra – CATs – em mais de meia centena de localidades nos Cerrados (região centro-oeste, MG, SP, TO, BA, PA, AM). Resultado claro desta atuação foi a publicação dos “Fascículos de Experiências de Plantio Direto no Cerrado” em 1994 e do livro “O Meio Ambiente e o Plantio Direto” (1998 – edições em português e inglês). Juntamente com o lançamento de um informativo quadrimestral que recebeu o título de “Direto no Cerrado” estas ações levaram aos agricultores os resultados obtidos pelas universidades e pela pesquisa agropecuária.
A decodificação da informação e a forma direta de comunicação dirigida aos produtores de alimentos, fibras e biocombustíveis foram decisivos para ultrapassar os desafios tecnológicos da adoção do SPD nos Cerrados, que ocupa hoje a maior parte da área de produção de culturas anuais.
Sua atuação extrapolou os limites do Cerrado Brasileiro, chegou aos vários biomas brasileiros e ganhou o mundo. Como consultor internacional em mais de vinte países, sua presença foi decisiva para direcionar o foco do mundo para o sucesso do SPD no Brasil, sendo a base conceptual da Agricultura Conservacionista adotado pela Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura – FAO. Sua dedicação e iniciativa foi reconhecida nacionalmente e internacionalmente pelos vários prêmios recebidos como o Prêmio Heidelberg Internacional para Excelência Ambiental (Alemanha, 2005) e a Order of the British Empire – OBE pela rainha Elizabeth II para “serviços á agricultura sustentável no Brasil” em 2006 no Reino Unido.
Sou testemunha da dedicação de JNL para o desenvolvimento de uma agricultura praticada de forma sustentável nos Cerrados Brasileiros. Sua persistência foi decisiva para que a nossa agricultura alcançasse a excelência que exibe hoje para todo o mundo. Altas produtividades, baixo consumo de combustíveis fosseis, sequestro de carbono, mitigação da erosão e uma agricultura sustentável e limpa é o fruto desta perseverança.
Os seus ensinamentos mostraram para toda a sociedade que os verdadeiros responsáveis pela qualidade ambiental são os agricultores, gerentes dos recursos naturais, tendo como base de sua atuação o Sistema Plantio Direto e a Integração Lavoura Plantio Direto-Pastagem.
John Landers nos ensinou que a adoção da filosofia do SPD implica na mudança do comportamento de todos os envolvidos com a agricultura e permeia toda a cadeia produtiva. Autor de uma das primeiras iniciativas de viabilização de uma agricultura conservacionista nos Cerrados, ao lado do Sr. Eurides Penha em Rio Verde e de Ricardo Merola em Santa Helena de Goiás, John Landers conduziu os primeiros campos experimentais em Morrinhos. O primeiro plantio bem-sucedido de soja e milho em palhada de girassol, sem preparo do solo, lhe deram o apelido de “gringo doido” e foram mostrados em um dia de campo realizado em 1983.
Dando um grande passo à frente, foi o protagonista na fundação da Associação de Plantio Direto no Cerrado. Como secretário-executivo da APDC, John Landers promoveu várias ações com o objetivo de troca de experiências existentes na região, com destaque para os encontros de plantio direto no Cerrado. Fruto deste trabalho, foram criados mais de 40 Clubes Amigos da Terra – CATs.
Foi no inicio dos anos 90 que a minha caminhada aderiu à de John Landers. E foi na década de 90 que sua contribuição foi a mais relevante, com a edição dos “Fascículos de Experiências de Plantio Direto no Cerrado”, em 1994, onde eram descritas experiências de produtores e relatados resultados de pesquisas em Universidades e Institutos de Pesquisa.
Também editou o livro “O Meio Ambiente e o Plantio Direto” em português e em uma versão em inglês, publicada pela FAO em 1998. Nada se compara com a iniciativa que durou mais de 10 anos de editar e publicar o informativo “Direto do Cerrado”.
A realização de dois encontros nacionais de Plantio Direto na Palha (1996, Goiânia e 1998, Brasília), foram decisivos para a mudança definitiva de paradigmas na agricultura goiana e de todo o Bioma Cerrados.
O mais notável na caminhada de John Landers sempre foi seu carinho especial com o pequeno produtor rural familiar. Exemplo desta dedicação foi sua atuação junto com o Grupo Goyas, formado por professores da Escola de Agronomia da UFG, visando adaptar, desenvolver e validar tecnologias conservacionistas para a pequena propriedade na comunidade de Serra Abaixo em Inhumas. Fruto deste trabalho foram realizados 3 encontros de PD para Pequenos Agricultores entre 1996 e 2001, sempre com a presença carismática de John Landers, que nunca desistiu de levar à agricultura familiar a oportunidade de produzir alimentos de uma forma conservacionista. Outros projetos desenvolvidos com apoio do Mapa, da ANA, da Embaixada Britânica, do Fida e de outros apoiadores foram dedicados também aos pequenos produtores.
A indicação de John N. Landers como Agrônomo do Ano de 2013 pelos Engenheiros Agrônomos do Estado de Goiás é um reconhecimento de seu papel para a mudança de paradigmas, o que possibilitou a agronomia praticada no Bioma Cerrados adquirisse um caráter indiscutível de sustentabilidade - social, economica e ambiental.
Engenheiro agrônomo e pesquisador sênior Embrapa Solos- Rio de Janeiro/RJ
E-mail: Pedro.Freitas@embrapa.br
Fonte: Página Rural