Rio Brilhante/MS
Sexta, 15 de abril de 2005 - 07h12min
Legado do maior fazendeiro do mundo inova para ganhar mais rentabilidade
A Fazenda Ramalhete, do legado do matogrossense Laucídio Coelho, que, de acordo com o Guinness Book foi “o maior fazendeiro do mundo”, começou este ano um processo de reengenharia total com objetivo de conseguir maior rentabilidade.
Entre as mudanças anunciadas estão a implantação de um sistema de comunicação via satélite, a readequação dos piquetes para aumentar a lotação do gado Nelore criado na propriedade, e, principalmente, a adoção de um sistema misto de engorda, que vai proporcionar ao negócio antecipação de receita e rentabilidade 20% maior que atual.
"Não vamos inventar a primeira lâmpada, mas daremos a ela uso real e escala", afirma Rafael Abrão Possik Jr., que assumiu este ano a gestão da Ramalhete, em Rio Brilhante (MS).
"Vamos seguir o exemplo de empreendedorismo deixado pelo Dr. Wilson Coelho, filho de Laucídio, e de Wilsinho, neto do maior fazendeiro do mundo", afirma Possik.
Possik, administrador de empresas e empresário do setor de Internet, leu livros sobre pecuária, assinou as principais revistas do setor e usou a rede mundial de computadores para pesquisar e conhecer técnicas modernas de manejo. Também conversou com os principais nomes do setor agropecuário, dentre eles Aluízio Lessa Coelho e José Roberto Ferreira Martins, antes de começar as mudanças. Além disso, levou para Campo Grande (MS) o veterinário Moacyr Seródio Filho.
O primeiro passo dado para melhorar a rentabilidade será aumentar a atual lotação dos pastos, a partir do replanejamento dos piquetes para adoção do pastejo rotacionado , somado à análise de novos tipos de pastagens e utilização de sal protéico de melhor qualidade.
Nesta etapa, a preocupação com o meio ambiente é estratégica para o sucesso do projeto: áreas de várzea estão sendo drenadas, nascentes recuperadas e preservadas e o lixo será reciclado, com o resultado repartido entre os próprios funcionários da fazenda.
De acordo com Possik, as mudanças devem ser vistas como um todo, mas a que deve surtir efeito mais rapidamente será a introdução do sistema misto de engorda. Durante os últimos 100 anos da Ramalhete o gado foi criado no pasto, solto. Agora, quando os animais atingirem 14/15 arrobas serão postos em confinamento até que alcancem 17 arrobas, peso considerado ideal para a comercialização.
Possik explica que fazendo o confinamento como última etapa, conseguirá “atingir as 17 arrobas entre 70 e 75 dias. Isso para nosso negócio significa antecipação de receita e lucratividade de 20% apenas nessa operação”, afirma.
No próximo mês começa a fase de modernização do sistema de comunicação da Ramalhete. Em parceria com a Impsat, Possik vai instalar acesso à Internet via satélite nas fazendas e promete romper paradigmas com adoção da tecnologia WiFi (sem fio) e conceitos de Organização Digital® na área administrativa.
"Com um Palm, iPaq ou Notebook qualquer peão poderá acessar nossa base de dados em Campo Grande montado no lombo de um cavalo", diz.
A telefonia via satélite também será usada para a compra de gado na mais longínqua pastagem. "Nosso capataz terá acesso às cotações do mercado em tempo real e poderá fechar bons negócios baseados nestas informações. E vamos além: se ele se deparar com algum animal doente no trajeto, poderá contatar nosso veterinário e indicar as coordenadas do GPS para localização rápida do animal", complementa Possik.
Terminada esta fase de inclusão digital, a Fazenda Ramalhete começará suas operações online no mercado futuro, na BM&F: “Estamos estudando muito o assunto, já que com o adoção de novas técnicas de manejo saberemos quando e com qual peso nossos animais poderão ser abatidos. Com isso, aumentaremos a lucratividade do negócio ao garantir o preço de comercialização antecipadamente", acredita Rafael Possik.
Possik faz questão de enfatizar que todas as mudanças respeitam a tradição conquistada como um negócio familiar. “Estamos, na verdade, migrando para uma forma de gestão profissional, mas focados na formação da 5ª geração de pecuaristas. Afinal, o nosso negócio nos últimos 100 anos vem, literalmente, de pai para filho”.
Laucídio Coelho, o maior fazendeiro do mundo
Laucídio Coelho chegou a ser o maior proprietário rural do mundo, de acordo com a edição de 1977 do Guinness Book, estando sempre na vanguarda dos planejamentos e na utilização de novas tecnologias. Suas fazendas somavam 1 milhão de hectares no centro-oeste brasileiro.
Para citar apenas um exemplo, ele, que criava em fazenda do pantanal e engordava os bois em invernadas distantes, em Rio Brilhante, foi adquirindo propriedades no trajeto da boiada, perto da estrada boiadeira, de modo que após algum tempo conseguiu implantar o seguinte sistema: saindo do lugar de cria, no pantanal, a boiada seguia com destino às invernadas de colonião. Na primeira fazenda de sua propriedade, alcançada pela comitiva, mandava deixar a “culatra”, ou seja, os bois cansados ou enfraquecidos, e pegava uma cabeceira, com igual número de bois fortes e sadios.
Nas próximas fazendas ia realizando a mesma inteligente substituição. Assim, muitas vezes, poucos bois da origem chegavam ao destino, pois eram trocados a cada parada. A boiada terminava a longa caminhada com o mesmo número de cabeças e em estado físico privilegiado, o que facilitava a rapidez da engorda.
Uma outra comitiva, que saísse do pantanal ia fazendo a mesma coisa, pegando os bois restabelecidos e deixando o refugo.
Dito assim parece simples. Mas, idealizar e pôr tudo isso em prática, no início do século passado, é de causar espanto e admiração.
Mais informações pelo telefone (11) 5589-1176.
Fonte: V.A. Comunicações