Londrina/PR
Segunda, 13 de junho de 2005 - 08h11min
Girassol é boa opção para o inverno
O desempenho da cultura, mesmo depois da estiagem, tem chamado a atenção de produtores no Noroeste do Paraná. Planta pode incluir mix de safrinha
Difundir o girassol no Noroeste do Estado como alternativa de rotação de cultura e renda foi o objetivo do dia-de-campo na propriedade de Denílson Caldeira, em Maringá, que reuniu cerca de 100 produtores. A região já possui outras opções como a canola.
O bom desempenho do girassol, apesar da estiagem que afetou as culturas da safrinha de inverno, despertou o interesse dos produtores. De acordo com engenheiro agrônomo Antonio Sacoman, da Cocamar, que promoveu o dia-de-campo, existem cerca de 1,2 mil hectares plantados com girassol em Maringá e municípios vizinhos.
O girassol é uma cultura própria de verão, mas, a exemplo do milho, tem se adaptado bem ao período de entressafra no Paraná. O surgimento de variedades e híbridos mais produtivos e aclimatados à região tem servido de estímulo aos agricultores. ""A tendência é que o girassol venha a compor o mix de culturas nas propriedades no período de outono/inverno"" presume Sacoman.
No Paraná, o cultivo de verão do girassol é limitado tanto pela competitividade econômica com a soja, como por causa da ocorrência de doenças fúngicas. Uma dessas doenças é a alternaria, em função da umidade e temperatura registradas no final do ciclo da cultura e na colheita.
A produtividade média, este ano, na região de Maringá deverá ser de 1,5 mil kg/ha, mas o potencial na safrinha poderá ser superior a 2 mil kg/ha cerca de 25 a 35 sacas de girassol. O custo de produção, segundo cálculos da Cocamar, deverá estar em torno de 18 sacas por hectare, o que, como avalia, garante uma boa rentabilidade.
A Cocamar garante compra de toda a produção, que destina os grãos para a fabricação de óleo e farelo em parque industrial próprio. A cooperativa está pagando R$ 31,50 ou o equivalente a US$ 10 por saca de 60kg para os grãos com teor base de óleo de 40%. ""Esta condição é apenas para a compra de 1 mil quilos por hectare por produtor e para quem fez contrato anterior ao plantio da safra"" explica Antonio Sacoman. Para o restante da produção é pago o preço de mercado do dia da comercialização.
Foto: Página Rural
Cultura resiste ao frio e à seca
O Girassol, segundo o pesquisador César Castro, comparado a outras culturas da safrinha, como o milho, é mais tolerante ao frio, tem maior rentabilidade, com menor custo de produção. A planta é também mais tolerante à estiagem que as demais opções de cultivo no período de outono/inverno na região. ""A cultura precisa em torno de 400 mm de água em todo o ciclo. Mas se houver o registro de somente 200 mm bem distribuídos, e o solo for profundo e sem impedimentos químicos ou físicos, ainda pode fechar a safra com uma boa produção"", garante.
""Só não pode faltar chuva na germinação, no período entre 10 a 15 dias antes do florescimento e de 10 a 15 dias após este estágio. O potencial de recuperação da lavoura é muito bom"", afirma o pesquisador. O girassol é beneficiado por possuir raiz profunda, de quase um metro e meio. ""Ele aproveita a água e os nutrientes que outras culturas não conseguem alcançar"", completa. No Paraná, o girassol deve ser plantado entre a segunda quinzena de fevereiro a primeira quinzena de março, mesmo período do milho safrinha, tendo um ciclo médio de 110 dias.
Para a colheita que ocorre em junho usa-se a mesma plataforma do milho ou da soja: ""bastam simples adaptações"", orienta. Existe no mercado plataformas específicas para a colheita do girassol, mas de alto custo. Além das adaptações, o pesquisador destaca que são necessários cuidados com a velocidade da operação de colheita e ajustes na regulagem da colhedora como, abertura do côncavo, velocidade do cilindro e na ventilação. Sem esses procedimentos o uso das plataformas não específicas geram perdas de mais de 10%.
Qualidades nutricionais incentivam consumo
O plantio de girassol tem se difundido muito, especialmente no Centro-Oeste do País - Goiás, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, além de Rio Grande do Sul e Paraná. Nestes locais, a cultura vem se consolidando como uma alternativa econômica para os agricultores.
Dados levantados pela Embrapa junto aos produtores de sementes, mostram que na safra passada foram cultivados em torno de 100 mil hectares. Contudo, a estiagem desse ano atrapalhou a expansão da cultura nas principais regiões ""girassoleiras"" do país.
Apesar da produção nacional, cerca de 80% do óleo de girassol envasado no Brasil ainda é importado, especialmente da Argentina. Para o pesquisador César de Castro, da Embrapa, a necessidade do produto para atender a demanda interna confirma as boas perspectivas de expansão do mercado.
As qualidades do óleo de girassol na prevenção das doenças cardiovasculares, segundo o pesquisador, é mais um motivo para impulsionar o consumo do produto. No mercado internacional é o quarto óleo mais consumido no mundo, depois dos de soja, palma (dendê) e canola.
Entre as principais qualidades do óleo de girassol, Castro destaca suas características nutricionais e funcionais, como a alta relação de ácidos graxos poliinsaturados (65%) e saturados (11%), em média. O teor de poliinsaturados é constituído, em sua quase totalidade, pelo ácido linoléico. O produto tem apenas 11% de gordura saturada, índice também considerado baixo quando comparado com o óleo de soja (15%), a margarina (18%) e a manteiga (66%). Nessa classificação o óleo do girassol perde apenas para os 6% do óleo de canola.
Segundo o pesquisador da Embrapa, a cultura do girassol tem também despertado interesse entre os produtores brasileiros por ser uma cultura competitiva, em termos de preço e custo de produção e devido à valorização do produto no mercado. Isso ocorre também por causa do número crescente de indústrias que estão investindo em óleos especiais e pela possibilidade de uso do girassol como biodiesel.
O girassol ainda tem ganhado espaço na alimentação animal, de aves, suínos, equinos e bovinos (farelo, grãos ou silagem com excelente teor de proteína bruta). A farinha e os concentrados protéicos de girassol estão sendo usados na indústria alimentícia, sob a forma de biscoitos, sopas, massas, mingaus, doces e temperos. Outro uso que tem despertado grande interesse na população são os girassóis ornamentais. ""Embrapa vem desenvolvendo girassóis coloridos para atender a demanda das floriculturas"", informa Castro.
O produtor está satisfeito
O bom desenvolvimento da lavoura de girassol até animou o produtor Luiz Roberto Perin, de Maringá, que incluiu a cultura em sua lista de opções para o inverno. Ele plantou 24 dos 227 hectares que cultiva com soja no verão.
Mais resistente à estiagem que o milho, a lavoura de girassol vem se desenvolvendo bem, estando em melhores condições. ""Como o custo de produção é baixo, estamos apostando em bons resultados. O manejo do girassol é mais simples do que eu imaginava"", afirma o produtor.
Em anos anteriores, Perin sempre destinou para o milho safrinha a maior parte do plantio de inverno, além de uma pequena área com trigo. Este ano, por conta dos reveses climáticos e dos preços ruins dos mercados de milho e trigo, o produtor optou pelo girassol como outra opção de renda. Ele tem ainda 40 hectares com aveia, visando a recuperação do solo.
O único arrependimento de Luiz Roberto é ter plantado o girassol à beira da estrada. ""É pior do que o milho. Quem passa na estrada não resiste à beleza das flores e sempre acaba levando um maço, dando um prejuízo considerável"", reclama.
Pouco ataque de doenças e pragas
As doenças e pragas não têm preocupado os produtores da região pela baixa ocorrência. Contudo, devem ficar atentos quando houver excesso de umidade e calor, pois a alternaria doença que afeta principalmente as folhas pode atacar severamente. Essa doença é característica do verão.
No inverno a doença mais comum, segundo a fitopatologista Regina Leite, da Embrapa Soja, é a esclerotínia (ou mofo branco). Ela aparece quando ocorrem chuvas frias por período longo, e ataca a cabeça do girassol. A região Noroeste do Estado, se a lavoura for plantada na época recomendada, não favorece o aparecimento da doença.
Já quanto a ocorrência de pragas, César de Castro alerta para o possível ataque de vaquinha no início da cultura, e de percevejos e da lagarta da folha no final da safra.
Girassol beneficia cultura seguinte
Outra boa característica do girassol, apontada pelo pesquisador César de Castro, e a de ser grande reciclador de nutrientes, tanto da adubação aplicada quanto do que está nas camadas mais profundas do solo. Há pesquisas que mostram que a palhada do girassol retorna para o solo cerca de 30% de nitrogênio, 60% de fósforo e 75% de potássio os três nutrientes mais importantes para a produção de soja.
""Em áreas de soja, após o girassol, tem se obtido produtividades cerca de 10% maiores, índices que chegam a 20% no caso do milho"". Castro calcula que o girassol deixe de seis a nove toneladas de matéria seca sobre o solo por hectare, aumentando o teor de matéria orgânica e a fertilidade do solo para as culturas que sucedem à do girassol.
Castro faz mais uma comparação positiva com o girassol: enquanto cada tonelada de grãos de soja absorve 50 quilos de nitrogênio e 20 quilos de potássio, os grãos de girassol exigem de 25 a 30 quilos de nitrogênio e seis quilos de potássio. ""Do grão de girassol se extrai 45% de óleo, enquanto da soja se extrai 20%"", finaliza.
Fonte: Folha de Londrina