Santa Cruz do Sul/RS
Quinta, 01 de julho de 2004 - 14h02min
O Vale do Rio Pardo diversifica
A diversificação da produção agrícola está rendendo os primeiros frutos para 46 produtores rurais do Vale do Rio Pardo. Para eles, a iniciativa não é encarada como uma ameaça à cultura do fumo, enraizada na região desde a sua colonização, e sim como uma alternativa de renda viável e, por que não dizer, rentável. Eles integram o projeto Análise e implantação de sistemas de produção agroecológicos: o caso da região do Vale do Rio Pardo, desenvolvido pela Unisc em parceria com as secretarias da agricultura dos municípios envolvidos.
O trabalho já possibilitou o plantio de 13.540 mudas frutíferas, sem o uso de agrotóxicos, em 50 pomares nos municípios de Cerro Branco, Rio Pardo, Santa Cruz do Sul, Vale do Sol e Vera Cruz, totalizando 26,5 hectares. A produção inclui o cultivo de cítricas (laranja e bergamota), pêssego, figo e amora, que depois são comercializadas nos próprios municípios.

Projeto da Unisc já possibilitou o plantio de 13.540 mudas frutíferas
Foto: Universidade de Santa Cruz do Sul (Unisc)
O projeto inicial começou a ser desenvolvido entre os anos de 1998 e 1999, sob o título Diversificação da Produção Agrícola. Nesse período, foram implantados cerca de 25 pomares de pêssego, com 0,5 hectares cada, nos municípios de Vera Cruz, Pantano Grande, Rio Pardo, Cerro Branco e Vale do Sol.
Em 2001, o trabalho passou a ser financiado pelo Conselho Nacional de Pesquisa Científica (CNPq), impulsionando o projeto atual com o apoio das prefeituras. “A escolha dos produtores ficou a cargo das secretarias de agricultura, juntamente com a Emater municipal”, explicou a coordenadora do projeto e professora do Departamento de História e Geografia da Unisc, doutora Virginia Etges.
A partir daí, técnicos da Unisc visitaram cada produtor verificando as áreas para implantação dos pomares. “Foram implantadas mudas de figo, pêssego, amora e citrus, variando de acordo com as condições do solo e do clima de cada propriedade”, conta Cleiton Strassburger Fogliatto, ex-bolsista do projeto e que hoje atua como voluntário na execução do trabalho. Graduado em Engenharia Agrícola na Unisc, Fogliatto é mestrando em Agronomia - Área de Fitotecnia (Produção Vegetal) na Universidade Federal do Rio Grande do Sul.
O passo seguinte, disse Fogliatto, foi oferecer assistência técnica aos agricultores, através de visitas periódicas, e capacitação teórica e técnica, através de cursos ministrados na Universidade. Esses cursos tratavam de temas como agroecologia, nutrição vegetal, adubação, tratos culturais, doenças e pragas das culturas e seus respectivos controles no sistema orgânico. “Também foram ministrados cursos de conservas e compotas nos laboratórios da Universidade”, acrescentou.
Outros cursos práticos foram oferecidos nas propriedades rurais, como poda, raleio, preparação de caldas e biofertilizantes, que são insumos utilizados na agricultura orgânica. Os produtores recebem ainda visitas mensais, quando podem trocar idéias com os bolsistas do projeto.
“Para o produtor rural a iniciativa tem grande importância, uma vez que é uma nova fonte de renda para ele”, afirmou Fogliatto. “Sem esquecer que o cultivo dos produtos é livre de agrotóxicos, o que reduz o custo com insumos”, destacou.
Reportagem publicada no Jornal da Unisc de junho de 2004 (www.unisc.br/jornaldaunisc/)
Diversificar dá lucro?
“Sim”, garantem os produtores Romeu Behling e Sebaldo Sperling, de Vale do Sol. Ambos quebraram uma corrente em suas respectivas famílias que há várias gerações tinham o fumo como principal meio de subsistência. “Hoje eu nem quero mais saber de plantar fumo”, afirma Behling.

Behling e Sperling: venda das frutas em feiras
Foto: Universidade de Santa Cruz do Sul (Unisc)
Sua convicção vem dos resultados obtidos nos dois anos em que integra o projeto da Unisc. O trabalho com os bolsistas e técnicos da Universidade o incentivou a produzir uva, figo e laranja em sua propriedade, que conta ainda com pomares de banana e abacaxi.
“Em 2003, a produção de uva chegou a 4,5 mil quilos”, comemora Behling. Segundo ele, o lucro anual com o fumo girava em torno de R$ 2 mil a R$ 3 mil. “Agora o lucro chega a R$ 5 mil”, acrescenta.
A principal razão, segundo ele, são os insumos reaproveitados da própria produção. “Agora tenho tempo para trabalhar com o esterco, não havendo mais necessidade de usar produtos químicos, o que reduz muito o custo”, aponta. “Sem falar na saúde, que melhorou muito”.
Já o produtor Sebaldo Sperling confessa que, no início, foi difícil assimiliar a importância da diversificação. “Acreditávamos no fumo e achávamos que iríamos enriquecer com ele”, diz. “Os vizinhos davam risada, perguntando o que queríamos plantando frutas e verduras”, conta Sperling.
Com o sorriso de quem riu por último, o produtor afirma que, com a diversificação, ele lucra 90% da sua produção de pêssego. “Com o fumo, esse percentual era de 30%”, lembra. “Agora não gasto quase nada com insumos”.
Outra vantagem apontada pelos produtores é a estabilidade financeira, já que tudo o que eles produzem é vendido em feiras semanais ou para o comércio local. “Com o fumo, o dinheiro vinha todo de uma só vez, no final da safra”, explicam.
Um dos locais de venda de Behling e Sperling é a Terça-Feira Ecológica, uma feira que tem o apoio do Capa, da Prefeitura de Vale do Sol e da Emater. Conforme o técnico-agrícola da Secretaria da Agricultura de Vale do Sol, Miguel Voese, o resultado do trabalho feito pela Unisc junto aos produtores vem sendo positivo. “Muitos deles já estão comercializando seus produtos, influenciando aos poucos na economia do município.”
Insumos
Nas visitas técnicas realizadas aos produtores rurais, a equipe coordenada pela professora Virginia ensina como preparar insumos com as próprias mãos. Segundo ela, o controle ecológico de doenças e pragas, na maioria dos casos, tem funcionado tão bem quanto o químico. “Os resultados têm sido positivos”, destacou Virginia. “Os produtores estão começando a perceber que podem lucrar com outras culturas.”

Bolsistas realizam visitas técnicas mensais aos agricultores
Foto: Universidade de Santa Cruz do Sul (Unisc)
Dessa forma, o alto custo dos agrotóxicos – e os prejuízos à saúde causados por eles – são substituídos pelo reaproveitamento de materiais orgânicos. “Eles aprendem a fabricar calda sulfocálcica, contra fungos, cochonilhas e outras doenças; calda bordalesa, de ação fungicida preventiva e curativa; e biofertilizantes, que são adubos orgânicos”, citou Fogliatto.
Fonte: Luciano Pereira / Cleonice de Carvalho - Universidade de Santa Cruz do Sul (Unisc)
Fonte: Luciano Pereira / Cleonice de Carvalho - Universidade de Santa Cruz do Sul (Unisc)